Missa dos Casais no Outeiro da Glória
Mons. Sérgio Costa Couto
Pelo menos desde 1968, sendo então capelão o Pe. Feliciano Rodrigues e provedor o Dr. Pedro de Alcântara Worms, segundo informações que recebi de antigos provedores e provedoras como o Dr. Silvestre Gonçalves da Silva, Dª Mariana Carlota de Oliveira Sobrinho Gomes de Amorim (viúva do Dr. André Amorim), Dª Elza de Noronha Viegas e do Bispo-Auxiliar Dom Narbal da Costa Stencel, Capelão da Imperial Irmandade de Nossa Senhora da Glória do Outeiro desde o início da década de ’70 até 1987, quando foi nomeado bispo — todos já falecidos —, realiza-se a cada ano, no último domingo de maio, às 11 horas, uma missa para a qual são convidados todos os casais que contraíram matrimônio em nossa igreja.
É uma celebração belíssima, de profundo alcance pastoral, enquanto valoriza o matrimônio, mostrando a sua vivência concreta pelo testemunho de casais de diferentes idades; de fato, costumamos ter a presença de casais com cerca de 60 anos de matrimônio, ao lado de alguns de poucas semanas; o ambiente é de uma felicidade contagiante.
Desde que assumi, há 24 anos, observando a beleza desta festa, pensei como melhorá-la; basicamente, ela precisava de uma maior divulgação, esta se limitava ao costume e a um anúncio no jornal. Eis que aqui e ali ouvia coisa do tipo: «o sr. é capelão do Outeiro da Glória? Casei-me ali.» Comecei a anotar… nomes, endereços, telefones, data de casamento… Iniciei o cadastramento em folhas soltas, guardanapos, canto de jornal ou envelope, tudo servia. Também os locais eram variados: recepções, solenidades oficiais, metrô…; muitas vezes a veste clerical, que sempre usei, serviu para a identificação e início de conversa.
Hoje o nosso cadastro está com quase 1000 casais, se viessem todos, excederíamos em muito a capacidade de nossa pequena igreja. Já há alguns anos enviamos uma carta, assinada por mim e pelo Provedor, convidando para a Missa; mandamos para todos, mesmo para fora da cidade ou do país. Queremos que todos se sintam lembrados. Impressionam e comovem algumas reações: pessoas que se deslocam de outros estados, outras que impedidas pela distância, pela doença, ou simplesmente por outros compromissos, agradecem o convite. Viúvos (-as) que comparecem sozinhos ou acompanhados dos filhos e netos, e dizem: “foi aqui que começamos”.
Recordo-me, sempre emocionado de uma senhora: o marido morrera há 4 dias, de câncer, a nossa pequena carta, disse-nos ela, fora o seu último momento de alegria, ocasionando uma declaração de amor à esposa: “mesmo que eu não possa ir, você vai”. E ela estava ali para cumprir o prometido.
A Missa dos Casais é uma forma da Igreja de Nossa Senhora da Glória do Outeiro cumprir sua vocação. Sim; acredito que os lugares sagrados também têm vocações. Vocações não são procuradas, “nos caem na cabeça”, estão nos planos de Deus, e não nos nossos. Os construtores de nossa igreja, no início do século XVIII, não a fizeram para cerimônias matrimoniais; simplesmente aconteceu…
Impressiona ainda a fecundidade dessa vocação, muitos casais se ligaram realmente à igreja a partir de seu matrimônio, ingressaram na Irmandade, e alguns se dedicam a ela intensamente até hoje, formando amizades de mais de meio século.
Mons. Sergio Costa Couto